O texto contido nesta seção é de autoria de Carla Stumpf Branco e Raquel Stumpf Branco. Portanto, por questões éticas, NÃO copie o texto, a não ser que seja útil para sua pesquisa científica e seja, então, devidamente REFERENCIADO em seu trabalho.

Além dos três grupos básicos reconhecidos das desordens temporomandibulares (DTM), outras patologias (específicas ou sistêmicas) podem afetar as regiões oral, cefálica, facial e cervical. Estas patologias podem surgir isoladamente ou associadas à DTM. Conheça abaixo outras situações clínicas abordadas pela Fisioterapia Orofacial.

Hipomobilidade e Anquilose Articular

A hipomobilidade é uma restrição do movimento articular, podendo ser inicialmente indolor, passando a causar dor quando uma força é usada na tentativa de abrir a boca. A diminuição dos movimentos mandibulares pode afetar a mastigação, a higiene bucal e dificultar os tratamentos dentários.
A anquilose é o desaparecimento ou limitação dos movimentos, podendo ser causada por hemartrose secundária a trauma na articulação, cirurgia, afecção, inflamação ou fibrose. Pode exigir uma correção cirúrgica, caso o tratamento conservador não seja instituído a tempo de recuperar a movimentação articular.

Hipermobilidade Articular ou Hipermobilidade Sistêmica

A hipermobilidade sistêmica é uma desordem hereditária, mais comum em mulheres, caracterizada por movimentos articulares excessivos em várias articulações do corpo, podendo atingir também a articulação temporomandibular. As articulações hipermóveis são instáveis, sendo, por isso, mais susceptíveis a micro e macrotraumas.
Quando afeta a articulação temporomandibular, a hipermobilidade permite que o côndilo translade além dos limites normais, facilitando a luxação da ATM e o deslocamento do disco.

Parafunções Orais (Bruxismo do Sono e Apertamento Dentário)

As parafunções orais são os hábitos não relacionados às funções normais, como fonação, deglutição e mastigação. Podem causar danos dentários, articulares e musculares.
O bruxismo do sono é uma atividade parafuncional involuntária dos músculos mastigatórios, que acontece de forma rítmica ou espasmódica, provocando o ranger dos dentes. Parece acontecer um desaparecimento natural com a idade. Pode ser diagnosticado através de questionários de auto-relato, do exame clínico da musculatura, do exame das estruturas dentárias e das polissonografias. A personalidade ansiosa, o consumo excessivo de álcool e cafeína e o estresse cotidiano são considerados fatores de risco para o bruxismo.
O apertamento dentário eleva os níveis de pressão intra-articular, favorecendo o desgaste articular.
Em pesquisa realizada e publicada por nós recentemente, verificamos que entre os pacientes de DTM, expressivos 76,9% relatam algum tipo de parafunção, podendo ser diurna, noturna ou a associação de ambas. Dos pacientes com dor miofascial, associada ou não a outras patologias, 82% relata bruxismo. Este valor pode ser ainda maior, se considerarmos que muitos pacientes que rangem os dentes à noite não têm consciência disto. Cinqüenta e seis por cento dos pacientes com artralgia relatam fazer apertamento dentário (1).

Fibromialgia

A fibromialgia é uma desordem ampla de dor musculoesquelética, cujo diagnóstico é dado pelo reumatologista a partir de dor à palpação em 11 de 18 lugares específicos no corpo. Além da dor muscular, os pacientes também se queixam de fadiga, distúrbios do sono, sensação de inchaço, parestesia, ansiedade e depressão. Muitas vezes, a fibromialgia é evidenciada em seu início por dor forte na musculatura mastigatória, o que leva o paciente a procurar um profissional especializado em dor orofacial.

Doenças Articulares

A osteoartrose, ou artrose, caracteriza-se pela deterioração da cartilagem articular e da superfície dos tecidos moles, provocando espessamento e remodelação do osso subjacente nos estágios mais avançados, além da formação de projeções marginais e cistos subarticulares. É progressiva e não tem uma única causa, sendo o resultado da combinação de fatores genéticos e mecânicos. Pode ser localizada ou acometer várias articulações do corpo. Pode ser sintomática e atingir a ATM, causando dor, edema e grandes limitações na movimentação, interferindo nas funções vitais.

Desordens da Coluna Cervical

São condições que afetam a região cervical e estruturas relacionadas a ela, podendo irradiar sintomas para os ombros, braços, região escapular e/ou cabeça. Para citar algumas: espondilite anquilosante, dor facial de origem cervical (dor miofascial ou cefaléia cervicogênica), protrusão de cabeça, além de outras alterações posturais.
Embora não muito comum, a espondilite anquilosante representa bem as doenças da coluna vertebral que terminam por afetar a ATM. É uma doença genética, ainda de causa desconhecida, cujo local primário patológico é a inserção dos ligamentos e das cápsulas articulares. Há fibrose e ossificação progressiva do tecido fibrocartilaginoso, limitando os movimentos, evoluindo da articulação sacro-ilíaca para articulações sinoviais da coluna vertebral em níveis cada vez mais altos.
A discutida cefaléia cervicogênica tem sua base fisiológica na convergência entre as vias trigeminais e aferentes dos três primeiros nervos cervicais. É uma dor unilateral, iniciando na região posterior da cabeça e na nuca, irradiando para a região fronto-temporal. Uma postura incorreta, a movimentação da região cervical e uma pressão em pontos específicos podem desencadear a cefaléia cervicogênica.
A região cervical também pode sofrer com trauma, como o chicote cervical, onde há hiperextensão da coluna cervical, rotação posterior do crânio, com conseqüente abertura inversa da boca e hipertranslação do côndilo, lesando estruturas da ATM.
A protrusão de cabeça é comum na população geral, sendo caracterizada pela projeção da cabeça, com conseqüente extensão da mesma sobre a coluna e a retificação da coluna cervical. Esta posição incorreta altera a biomecânica da face, aumentando a tensão na musculatura mastigatória, além de comprometer o funcionamento da própria região cervical.
Há uma inter-relação entre a região cervical e a articulação temporomandibular. Uma alteração na região cervical parece ser fator predisponente ou agravante da desordem temporomandibular, assim como esta pode também influenciar no surgimento ou na evolução da desordem cervical, visto que para um bom funcionamento, as estruturas do corpo devem estar em equilíbrio. Em geral, a relação entre as desordens cervicais e a DTM é baseada em alterações biomecânicas e anatômicas que afetariam a função de ambas as regiões. Entretanto, nem todo paciente com alterações cervicais desenvolve algum tipo de DTM, ou vice-versa, devendo cada caso ser avaliado e estudado individualmente.

Cefaléia do Tipo Tensão e Migrânea

A dor de cabeça é uma queixa freqüente nos consultórios médicos, sendo a cefaléia do tipo tensão a mais comum. Esta tem intensidade média a moderada, inicia-se após ou antecipando uma situação de estresse, intensificando-se com o passar do dia. O paciente relata dor em pressão ou aperto, geralmente bilateral. Sua crise pode durar de minutos a dias.
A migrânea é idiopática, tem intensidade moderada a intensa, sendo de qualidade pulsátil, durando de 4 a 72 horas. A migrânea pode ser subdividida em migrânea com ou sem aura. A migrânea sem aura é a mais freqüente, considerada uma cefaléia primária, um distúrbio neurovascular, sendo caracterizada por dor de cabeça intensa, com sinais disautonômicos, neurológicos e gastrointestinais, associados com náusea, osmofobia, fotofobia e fonofobia. A crise pode ser agravada por atividades físicas rotineiras. A aura que acompanha a migrânea ou a antecede é um conjunto de sintomas neurológicos.

Paralisia Facial Periférica

Lesões do nervo facial em qualquer parte do seu trajeto resultam em paralisia dos músculos da expressão facial na metade lesada. Além disso, o paciente apresenta do mesmo lado da lesão: flacidez da musculatura mímica, dor na região mastoidiana, ageusia e hiperacusia. Instala-se uma notável assimetria facial: o paciente é incapaz de fechar totalmente o olho do lado lesado, há desvio da boca para o lado sadio (por desequilíbrio de força muscular) e desnivelamento das sobrancelhas. Funções vitais como a fala e a mastigação ficam comprometidas.
Com a ausência ou diminuição da atividade da musculatura da mímica facial, esta musculatura tende a atrofiar, devendo a paralisia facial ser tratada precocemente por profissional especializado. A paralisia tem um prognóstico variado de acordo com a sua causa.

Neuralgia do Trigêmeo

Esta neuralgia é considerada o distúrbio mais agonizante a afetar o ser humano. Suas crises são episódicas, durando de alguns segundos a alguns minutos, provocando dores graves e súbitas, confinadas a um ou mais ramos do nervo trigêmeo. A dor é geralmente unilateral, penetrante, como um choque elétrico, podendo surgir espontaneamente ou ser desencadeada por estimulação mecânica leve, como a mastigação, a conversação ou apenas um toque suave na face.

Sinusite

A sinusite é o acometimento inflamatório dos seios da face, freqüentemente surgindo como complicação de uma infecção viral aguda do trato respiratório superior, além de poder se instalar por fraturas e intervenções cirúrgicas envolvendo os seios paranasais. O paciente pode apresentar corrimento nasal, cefaléia, febre, tosse, etc. Se houver retenção abundante das secreções, há dor.
A dor da sinusite e da DTM podem ser confundidas clinicamente, devendo-se fazer avaliação minuciosa para distingui-las. Devem ser investigados radiograficamente os seios maxilares, etmoidais, esfenoidais e frontais.

Respiração Bucal

A respiração é uma função fisiológica fundamental - sempre - sendo a respiração nasal a mais adequada, por filtrar, aquecer e umedecer o ar respirado.
Por ser uma função vital, o mau funcionamento da respiração pode interferir em diversos órgãos, sistemas e estruturas do corpo humano. A obstrução nasal, que pode ser total ou parcial, leva à respiração bucal: um padrão ventilatório com desvantagem mecânica e conseqüente diminuição do suprimento de oxigênio para o organismo. A fraqueza da musculatura dos lábios também pode favorecer o hábito da respiração bucal. Com ela, o ar não é devidamente tratado, fazendo com que o paciente respire um ar de menor qualidade, aumentando a freqüência de infecções respiratórias e quadros gripais e bronquíticos.
Em crianças, a respiração bucal é ainda mais preocupante. A face se torna alongada e entristecida, os olhos mostram-se caídos e os lábios entreabertos, hipotônicos e ressecados. A menor atividade da musculatura oral e o fluxo de ar incorreto podem favorecer deformidades na face e região oral. O padrão respiratório incorreto leva a alterações na postura, dificuldade na fala e escrita, podendo comprometer o desempenho escolar.

Zumbido

O zumbido tem muitas causas já reconhecidas, sendo uma queixa comum nos consultórios médicos. São sensações auditivas subjetivas, podendo ser descritas como som de apito, campainha, chiado, água corrente, etc. Situações de tensão nervosa, fadiga física e psíquica podem agravar o quadro.
Os pacientes com DTM freqüentemente queixam-se de zumbido no ouvido do mesmo lado da dor ou desordem.

Síndrome de Eagle

O processo estilóide se origina no osso temporal, seguindo as carótidas externa e interna, sendo continuado pelo ligamento estilo-hióideo. Este pode tornar-se calcificado, aparecendo alongado radiograficamente (com mais de 25 mm). Anomalias do complexo estilo-hióideo podem desencadear sintomas dolorosos, se o ligamento estilo-hióideo for forçado contra tecidos moles adjacentes, durante movimentos normais da cabeça. Esta condição é conhecida como Síndrome de Eagle. Os sintomas mais comuns são: dor facial vaga irradiando para o ouvido ou ao longo da mandíbula, dor na garganta, disfagia, disfonia, cervicalgia, tonteira e sensação de corpo estranho. Pode haver restrição dos movimentos de cabeça e pescoço, por dor.
A dor na face pode ser confundida com sintomas de DTM. O paciente pode também relatar estalos que parecem originar atrás do ângulo da mandíbula e ser confundidos com o estalo ocasionado pelo deslocamento do disco temporomandibular. A radiografia panorâmica é recomendada para o diagnóstico da calcificação do ligamento estilo-hióideo, podendo ser complementada por tomografia computadorizada.

 

Referência:
1- Branco RS, Branco CS, Tesch RS, Rapoport A. Freqüência de relatos de bruxismo em pacientes com desordens têmporo-mandibulares. Revista Brasileira de Medicina 2006; 63(9): 464-468.


Para conhecer sobre a abordagem fisioterapêutica especializada para cada uma destas condições patológicas, veja a seção Fisioterapia Orofacial.

 

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